segunda-feira, 16 de abril de 2012

No Escuro ou Uma Declaração de Amor

Corpos nus e suados no escuro.
Apenas o barulho ritmado do ventilador no teto, que faz balançar levemente a cortina, deixando que fachos de luzes da rua brinquem pelas paredes, formando sombras e formas coloridas.
Ele já dormiu, e agora ela se remexe na cama escutando a música que vem de alguma festa distante.
Sons de alegria, com certeza, risadas e vozes agitadas.
O clima é todo anos sessenta.
E ela pensa, voa distante em lembranças difusas, sem conseguir se deter ou se localizar em um momento preciso de sua vida.
Acha bom ficar assim, em video-tapes sem sentido, até que o sono interrompa alguma ação que nunca aconteceu.
Pensa no amor a seu lado, e comove-se ao olhar a brancura do seu corpo imóvel, alheio ao turbilhão de seus pensamentos.
Brinca de inventar pedaços de sua vida que ela não conhece, de sua infância cheia de aventuras e segredos.
Acha fascinante imaginar e conhecer sua história de antiguidades gaulesas, romanas, batalhas de Napoleões, reis, nobreza, revolucionários, datas e fatos sem fim.
Tudo tão distante, lá dos livros de história, que a mocinha pobre jamais imaginou conhecer de perto.
Não resiste ao ímpeto de tocar o seu corpo devagarinho, tentando descobrir detalhes europeus ainda ocultos para ela.
Aproxima-se bem de perto, para melhor sentir o seu cheiro, e cola-se em seu dorso macio.
Ela tem a impressão que agora, ele finge dormir, para não ter que contar mais detalhes da Inquisição ou de Louis XIV, Zola ou Baudelaire, coisas que ela adora perguntar todas as noites.
Instantes de puro enlevo.
Pena o cartesianismo e a praticidade, quando ela o escuta dizer:

-"Tu vas dormir maintenant, parce que tu travailles demain".

Em seu cantinho ela pensa:

-"Quelle merde!!!"

;-))

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