Minha avó já dizia que conselhos não servem pra nada, e é a mais pura verdade. Disto, certifico-me a cada dia, mesmo profissionalmente.
Não estou certa se a exposição de minha vivência pode tocar alguém. Talvez, a alguns, ou quem sabe, a ninguém, mas ainda assim, quis trazê-la.
Quem diria, cheguei lá, ou aqui, terceiro ato de minha vida, passou tão depressa, nem percebi, envolvida que estava em mil coisas, pessoas, sentimentos, acontecimentos, com a juventude!!!
Fiquei “pasma” durante algum tempo, e não foi nada fácil aprender o que fazer em cena. Penso até, que minha primeira reação foi observar à minha volta, juntar as representações dos outros atores e copiar. Não deu certo, confesso. Havia muitas coisas que eu não conseguia fazer.
E então?
Achei melhor viver eu mesma, ser o que eu dava conta, mas havia um grande problema, tal não agradava a muitos. Tive que modificar, ajustar, para ser muito aplaudida. Encenar bem, oras.
A consciência de que jamais estaria nos “conformes” foi lenta e dolorosa. E é um processo que não terminou, continua a cada dia, e se repete por muitas vezes.
Às vezes, sinto-me sozinha nisto. Um ET. Mas não é mau, tive que aprender também.
Parece-me que caminho na contramão da avalanche. Pensem bem, uma loucura.
Vamos lá, que processo é este?
Começo pelo principal, tive que recolher-me e começar a dialogar comigo mesma. Chique, não? Todo mundo fala nisto, está nos livros de auto ajuda, mas a empreitada é sofrida, caso a busca seja a coerência, o encontro honesto com nós mesmos.
O bendito diálogo, acredito eu, é cotidiano, interminável, mas é lindo, valioso, fundamental.
Olhem só o que venho conversando com minha mente, com o meu corpo, com minha vida em geral:
-Lamento muito buscar e viver o amor aos sessenta, sei que dirão, a hora já passou, é assim que esperam que eu me comporte. Mas lá vou eu.
-Gargalhadas e molecagens não são coisas adequadas a uma educação mais fina e aos mais velhos? Que pena!!!
-Sobre a beleza e o feminino:
-Um tubo de tinta de boa qualidade resolve bem o problema de meus cabelos brancos, que eu não tenho a menor vontade de mostrar; assim como minhas unhas, ficam “lindas”, se eu mesma cuidar; ganho mais tempo descansando, lendo ou zapeando pela internet em busca do que me interessa. Posso também ir a um bom salão de beleza, sem uma “obrigatoriedade”.
-Creme da avon faz o mesmo efeito do que um francês em minhas rugas, igual para um batom, e juro, não sofro pelos “Diores” da vida. São ótimos, mas não insubstituíveis.
-Roupas de marca, pra que? Adquiri (levou um bom tempo), minhas próprias marcas, e se alguém quiser que eu as carregue, terá que me pagar. Sinceramente, foda-se a moda do vermelho, se eu estou muito a fim do amarelo. Tá usando o rodado? Lamento, gosto do justo. Não estou a mais chique do pedaço? Mil perdões.
-Aliás, venho esvaziando armários e espaços, para que caibam mais informações, viagens, ternuras, amizades e amor em minha vida. Esperta, eu, né?
-Simplicidade, tenho buscado, mesmo que não a alcance algumas vezes.
-Sobre o amor, não vou tê-lo em todas as pessoas com quem convivo, e saibam, já quis muito. Custei a compreender, que mesmo se eu me fizer simpática e boazinha, NÃO TEREI. E aí? Sem mais insistências.
-Meus filhos são maravilhosos, mas a vida deles não pode parar por causa de meus problemas e minha solidão. Já é hora de me haver com estas coisinhas.
Êta terceiro ato danado!!!
Só queria dizer ainda do diálogo com meu corpo.
Ufa, maior conflito quando fui avisada do fim de minha juventude.
Pois é, irreversível, acabou, não volta mais; posso chorar, espernear, FIM. Não quero ficar empacada, não desejo suicidar-me.
No maior golpe de mestre, passei a conviver “graciosamente” com ele. E mais, temos segredos incríveis, impublicáveis, só nossos. Morro de rir quando penso que seria condenada se tais segredos viessem à tona. Justamente por isto, continuamos em cumplicidade absoluta, ignorando o que podem pensar. Batemos bons papos algumas noites.
Minha listinha parece não ter fim.
Querem saber? Chego à conclusão que o terceiro ato tem muito mais ver com o camarim, diante do espelho, do que com o palco. Deixo as encenações para os bons atores.
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