sábado, 14 de abril de 2012

LIVRO: Conto Azul e outros contos - Marguerite Yourcenar




Já havia lido “Memórias de Adriano” há bastante tempo.
Ficou-me como uma grande obra, um livro fantástico.
Porém, e espero redimir-me agora, pouco conhecia de Marguerite Yourcenar, escritora merecidamente destacada entre os melhores do século XX.
Quis o acaso que eu encontrasse bem ao fundo de uma prateleira de livros em promoção, “Conto Azul e outros contos” (10,00) da mesma escritora.
Comprei-o, li, e fascinada, recomendo-o e tento fazer uma pequena análise.
Sobre a escritora:
" O ser a que chamo eu veio ao mundo numa segunda-feira, dia 8 de Junho de 1903, pelas 8 horas da manhã, em Bruxelas, de um pai francês, pertencente a uma antiga família do norte, e de uma belga cujos ascendentes se tinham há muito implantado em Liège..."("Souvenirs Pieuxs”, seu livro de memórias).
Oriunda de uma família aristocrática, foi criada por seu pai, já que a mãe morreu pouco tempo após seu nascimento.
Acompanhou-o em inúmeras viagens pelo mundo, e desde cedo ficou registrado um modelo intelectual muito forte em sua criação, sendo que, ainda bem jovem, já falava inúmeros idiomas (latim, grego, italiano, inglês, entre outros).

Residiu nos Estados Unidos logo após o início da Segunda Guerra, onde naturalizou-se americana.
Ainda, foi a primeira mulher eleita para a Academia Francesa.
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“CONTO AZUL E OUTROS CONTOS”
O livro traz-nos três contos da escritora, a saber: Conto Azul, A Primeira Noite, e Malefício, sendo que o único verdadeiramente inédito é o Conto Azul, já que os outros dois haviam sido publicados antes.
CONTO AZUL:
Um conto pequeno, que trata da ganância humana e a busca pela riqueza, não importando se neste percurso os resultados sejam os acidentes, naufrágios ou a própria morte.
O que impressiona são as curtas passagens em que os personagens masculinos se deparam com o feminino, figuras pintadas de maltrapilhas, feridas, resignadas e silenciosas, como se nada tivessem a acrescentar à cena.
Meros panos de fundo, atores coadjuvantes no espetáculo degradante da vida.
A PRIMEIRA NOITE:
Uma jovem em viagem de núpcias com seu marido, um homem já mais velho e experiente, com um olhar cínico sobre o amor e o futuro inexorável e decadente de sua mulher.
Antes mesmo que se consume o ato sexual, ele já se repugna com a possibilidade de uma maternidade e o cotidiano quase “idiota” em que se instalarão.
A mulher, aí pintada em nuances de submissão, não pensante e insensível ao que está a seu redor.
Um feminino sem saídas outras possíveis.
*Este conto foi escrito por Michel de Crayencour, pai de Marguerite, mas revisto e publicado por ela.
Um jogo de trocas, desde cedo estabelecido em cumplicidade por ambos, com intimidade e fascínio.
MALEFÍCIO:
A história de uma jovem que se "descobre" bruxa, logo após ver revelados seus desejos mais inconscientes, em que ela imagina a morte de uma amiga, para então possuir seu amante.
Resignada e feliz, aceita tal destino (de bruxa), como uma saída punitiva aos seus anseios sexuais.
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A partir de sua vida, fica-nos mais fácil entendermos a mulher na obra de Marguerite Yourcenar.
Sem o modelo de um feminino onde se espelhar, passa sua infância e juventude acompanhando o pai, que nela projeta seus desejos intelectuais, introduzindo-a no mundo literário e da antiguidade grega.
Desde cedo, discutem juntos Shakespeare e se comprazem em inúmeras viagens, numa época em que uma educação completamente diferente era destinada às jovens.
Pode-se dizer que Marguerite viveu o mundo masculino, através do olhar de seu pai.
Aos trinta anos, ela se apaixona arrebatadoramente por Andre Fraigneau, seu editor em Paris. Andre é jovem, bonito e homossexual.
Em 1937, também em Paris, conhece a americana Grace Frick, com quem passa a ter uma longa relação amorosa.
Já bem mais velha, apaixona-se novamente, desta vez, por Jerry Wilson, também jovem e homossexual.
O legado de sua obra literária é vasto e brilhante, marcado pela observação implacável e crítica de uma mulher que buscou a sua própria liberdade, vivendo uma sexualidade confusa e sofrida.

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