sexta-feira, 13 de abril de 2012

Escritos do vazio

Escrever do vazio é o que me resta.
A dor vai se diluindo nas letras.
Formo palavras e elas desembocam em frases.
Eu hoje choro a partida de meus filhos para a vida, mas não queria morrer nesse vazio.
Tenho ainda meu corpo quente de amor e carinhos para todos eles, mas preciso saber transformar tudo isso em um sorriso de adeus.
Funções da mãe e da mulher, que coisa complicada juntá-las. O que dizer da menina?
A mãe quer os filhos, a mulher quer o amor, a menina quer brincar.
É preciso escrever os filhos, o amor, o brinquedo, construir um outro lugar onde eu me insira e componha a vida sem a morte.
Sem cair no vazio dessas partidas.
Letras, palavras, frases e a minha escrita.
Não sem dor.
Construção feita de lágrimas, mas que seja forte o bastante para dar conta de um outro corpo, de um outro feminino.
O que me parecia pleno já não o é.
Trabalhar o luto sem dele gozar.
Esvaziador.
Esvazia/dor.
Es/vazia/dor.
Escrevendo as letras, palavras e as frases nessa folha em branco.
Inscrevendo-me no que não me parece perdido.
Estou viva.

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