domingo, 15 de abril de 2012

Auto-ajuda - farsa diabólica


Fico vendo os inúmeros PPS que recebo diariamente em meus emails. Alguns, com imagens belíssimas, a música, igualmente linda.
Não duvido de maneira alguma das intenções dos que os enviam.  Fazem-se presentes com carinho, amizade, e certos de que estarei também feliz ao lê-los.
Olho as listas dos livros “best-sellers”, campeões em vendas por mais de meses, reinando absolutos nas prateleiras, imperdíveis, maravilhosos. Incontáveis edições.
Imagino a fortuna que cada um dos autores recebe, e logo, outros e mais alguns, virão rechear novas listas, novas prateleiras.
Outro dia, li num jornal local que os ingressos para “escutar” um destes autores já haviam se esgotado um mês antes do show/apresentação.
Óbvio, que nestes casos de “audições”, conta muito, não só o conhecimento dos “conselhos” a serem transmitidos, mas também, a oratória, o carisma, o poder de persuasão.
A “praga” está nas revistas, nos jornais, na televisão, nos livros, entra em nossas casas até por mensagens deixadas debaixo da porta.
Sinceramente, dá vontade de rir dos “resultados  infalíveis”:
como ser feliz, como ser magro, como ter um amor, como viver a vida, como ter amigos, como ter sucesso, a juventude eterna, enfim, as propostas miraculosas são tantas, que seria difícil enumerá-las todas aqui.
Nem mesmo sabemos por onde começar, a colocar “em ordem” nossas vidas, rumo ao “tudo certinho”, “tudo lindo”, “tudo em paz”. Aliás, uma proposta do capitalismo, onde o que conta é o imediatismo, o consumo rápido. É desta forma, através de tais leituras e ensinamentos, que estaremos aptos e vitoriosos.
Os gordinhos, os incapazes de um amor, os solitários, os não ricos, os mais velhos, os fora da forma, estes, fodam-se.
A “fórmula” está dada, como é que se atrevem a não serem felizes???
Com tantos livros e conselhos, por que tantos males???
Torna-se cada vez mais difícil fazer uso de  nossa capacidade crítica e de um mínimo de discernimento, pois, imaginem, que mundo perfeito, e todas as ferramentas para tal, facilmente encontráveis na livraria da esquina, ou no PPS matinal.
Tudo bem, estou nas páginas deste ou daquele livro. Leio e sigo em frente.
Lidar com a psicanálise, no divã ou na escuta, implica em caminhar rumo ao conhecimento de que algo sempre faltará em nossas vidas, que a completude não existe, e dos sofrimentos (enormes) que nos causamos, ao tentar responder a padrões “pré-estabelecidos” de felicidade, de amor, de beleza ou de comportamento.
Tamponar o que nos falta, com promessas de que “tudo é possível”, rápida e facilmente, eis o que nos oferece a auto ajuda. Proposta perversa em si mesma, já que tal tamponamento jamais se realizará.
Situar-nos dentro de nossos próprios desejos é uma tarefa árdua e que nos exige coragem e muito trabalho.
Sustentar nossas próprias escolhas, mesmo que fora de moda, mesmo que na contramão do capitalismo não é fácil.
Mas que não sucumbamos ao ilusório, que não façamos pouco de nossas percepções.

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