O livro, em edição esgotada, custou-me horas de buscas e pesquisas em livrarias de Belo Horizonte e na internet.
Agradeço ao Jean Luc a ajuda incansável.
Encontramos apenas um exemplar em língua espanhola.
Não sei se conseguiria lê-lo em outro idioma, leitura árdua e muito técnica em algumas passagens.
Finalmente, ei-lo, em um sebo de Niterói.
Alegria pura, satisfação de um grande desejo meu.
O AUTOR:
O Dr. Igor Caruso, pertencente a uma família italiana que emigrara para a Rússia e depois para a Austria, nasceu em 1914 e morreu em 1981.
Escritor de uma notável série de livros, traduzidos e publicados inclusive no Brasil, pautava-se por uma orientação teórica eclética, que buscava conciliar a psicanálise com outras correntes de pensamento e com a religião cristã. Foi natural assim que, quando criou em 1947 o Círculo Vienense de Psicologia Profunda, abrigasse pessoas de variados matizes intelectuais e religiosos.
Tenho muitas ressalvas ao que ele faz de sua teoria, mas ainda assim, permito-me ler sua obra com prazer.
A OBRA:
O autor trata da questão da separação, fazendo um paralelo com a morte de pessoas ainda vivas.
De pessoas que ainda se amam, e sobretudo, dos inúmeros mecanismos psíquicos e sócio-culturais aí envolvidos.
Através de exemplos clínicos, mostra-nos uma série de reações e "justificativas" usadas para se fugir do amor, alienar-se num papel exigido pela cultura, e sobretudo, a obediência à repressão, muitas vezes velada e da qual não nos damos conta.
A pergunta que se coloca fundamental:
"SERIA A CULTURA PORTADORA DA MORTE"?
A resposta psicanalítica vem exatamente da teoria de Freud sobre a pulsão de morte e é onde o autor discorre, já que sua busca é em direção a uma psicanálise "mais eclética" e discordante em alguns aspectos da teoria freudiana.
A força de Tânatos (pulsão de morte) em nossas repetições cotidianas, por exemplo, buscando incansavelmente o impossível, e as pulsões opostas, Eros ou Libido, que tendem para novos estados mais organizados.
"...a compulsão repetitiva comprova que a finalidade das pulsões é o retorno aos estágios anteriores; as pulsões não procuram de modo algum criar situações novas; o estado original era a morte, por conseguinte, as pulsões tendem a retornar para o inorgânico"....
AMOR/ÓDIO, AGRESSIVIDADE, INDIFERENÇA.FUGA PARA ADIANTE, IDEOLOGIZAÇÃO, IDEALIZAÇÃO E AMBIVALÊNCIA, tentativas capengas de se explicar a morte.
ANGÚSTIA, sempre presente na vivência da separação.
Passagens fantásticas:
-A sobrevivência do outro à separação constitui uma ofensa narcisista.
-A recriminação inconsciente ("você me esqueceu"), com certeza, libera uma grande quantidade de agressividade.
-Pode-se falar em felicidade quando a união dual rompida consegue se manter, pelo menos até certo ponto, sob uma forma sublimada - através de interesses intelectuais ou profissionais (livros, cartas, músicas, a busca de interesses em comum do passado).
A troca de cartas se torna um substituto e um símbolo do próprio ato sexual.
-A agressividade tem um papel relevante sobretudo nos tipos orais e em seu amor infantil.
-O "abandonado" (que também abandonou o outro), consola-se da seguinte maneira:
"A MÃE PERDIDA É A MÃE MALVADA"
-A prioridade do ódio sobre o amor (a pulsão de morte como anterior a Eros).
-Só depois de estabelecida a organização genital é que o amor se torna o oposto do ódio.
-Talvez não haja exagero em dizer que amar alguém para modificá-lo significa querer assassiná-lo.
A VIDA É UM CÂNCER INCURÁVEL NO CORPO DA MORTE. MAS ONDE HOUVER VIDA, AÍ HAVERÁ LIBIDO, QUER DIZER, AÇÃO DO PRINCÍPIO DO PRAZER, BUSCA DA FELICIDADE.
Rita, bom dia. Por acaso cheguei nesse livro em um balcão de trocas em que, já antes de ler o seu relato, considerei-o como a pérola do dia. Há uns anos atrás, li do Francesco Alberone o "Genesis", que trata do amor como revolução social. Penso que ambos os livros se equilibram em seus opostos: um tratando do início e o outro do fim (ou não) do amor. Ambos carregam essa visão sociológica do amor que me agradou bastante, o Alberone de modo mais presente a parte sociológica. Ficaram os dois livros juntos na minha estante em perfeito equilíbrio rs Sugiro pois quem sabe te agrade. Parabéns pelo artigo, muito bacana. Abços Luciana
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