sábado, 14 de abril de 2012

LIVRO: A Separação dos Amantes - Igor Caruso


O livro, em edição esgotada, custou-me horas de buscas e pesquisas em livrarias de Belo Horizonte e na internet.
Agradeço ao Jean Luc a ajuda incansável.
Encontramos apenas um exemplar em língua espanhola.
Não sei se conseguiria lê-lo em outro idioma, leitura árdua e muito técnica em algumas passagens.
Finalmente, ei-lo, em um sebo de Niterói.
Alegria pura, satisfação de um grande desejo meu.
O AUTOR:
O Dr. Igor Caruso, pertencente a uma família italiana que emigrara para a Rússia e depois para a Austria, nasceu em 1914 e morreu em 1981.
Escritor de uma notável série de livros, traduzidos e publicados inclusive no Brasil, pautava-se por uma orientação teórica eclética, que buscava conciliar a psicanálise com outras correntes de pensamento e com a religião cristã. Foi natural assim que, quando criou em 1947 o Círculo Vienense de Psicologia Profunda, abrigasse pessoas de variados matizes intelectuais e religiosos.
Tenho muitas ressalvas ao que ele faz de sua teoria, mas ainda assim, permito-me ler sua obra com prazer.
A OBRA:
O autor trata da questão da separação, fazendo um paralelo com a morte de pessoas ainda vivas.
De pessoas que ainda se amam, e sobretudo, dos inúmeros mecanismos psíquicos e sócio-culturais aí envolvidos.
Através de exemplos clínicos, mostra-nos uma série de reações e "justificativas" usadas para se fugir do amor, alienar-se num papel exigido pela cultura, e sobretudo, a obediência à repressão, muitas vezes velada e da qual não nos damos conta.
A pergunta que se coloca fundamental:
"SERIA A CULTURA PORTADORA DA MORTE"?
A resposta psicanalítica vem exatamente da teoria de Freud sobre a pulsão de morte e é onde o autor discorre, já que sua busca é em direção a uma psicanálise "mais eclética" e discordante em alguns aspectos da teoria freudiana.
A força de Tânatos (pulsão de morte) em nossas repetições cotidianas, por exemplo, buscando incansavelmente o impossível, e as pulsões opostas, Eros ou Libido, que tendem para novos estados mais organizados.
"...a compulsão repetitiva comprova que a finalidade das pulsões é o retorno aos estágios anteriores; as pulsões não procuram de modo algum criar situações novas; o estado original era a morte, por conseguinte, as pulsões tendem a retornar para o inorgânico"....
AMOR/ÓDIO, AGRESSIVIDADE, INDIFERENÇA.FUGA PARA ADIANTE, IDEOLOGIZAÇÃO, IDEALIZAÇÃO E AMBIVALÊNCIA, tentativas capengas de se explicar a morte.
ANGÚSTIA, sempre presente na vivência da separação.
Passagens fantásticas:
-A sobrevivência do outro à separação constitui uma ofensa narcisista.
-A recriminação inconsciente ("você me esqueceu"), com certeza, libera uma grande quantidade de agressividade.
-Pode-se falar em felicidade quando a união dual rompida consegue se manter, pelo menos até certo ponto, sob uma forma sublimada - através de interesses intelectuais ou profissionais (livros, cartas, músicas, a busca de interesses em comum do passado).
A troca de cartas se torna um substituto e um símbolo do próprio ato sexual.
-A agressividade tem um papel relevante sobretudo nos tipos orais e em seu amor infantil.
-O "abandonado" (que também abandonou o outro), consola-se da seguinte maneira:
"A MÃE PERDIDA É A MÃE MALVADA"
-A prioridade do ódio sobre o amor (a pulsão de morte como anterior a Eros).
-Só depois de estabelecida a organização genital é que o amor se torna o oposto do ódio.
-Talvez não haja exagero em dizer que amar alguém para modificá-lo significa querer assassiná-lo.
A VIDA É UM CÂNCER INCURÁVEL NO CORPO DA MORTE. MAS ONDE HOUVER VIDA, AÍ HAVERÁ LIBIDO, QUER DIZER, AÇÃO DO PRINCÍPIO DO PRAZER, BUSCA DA FELICIDADE.

Um comentário:

  1. Rita, bom dia. Por acaso cheguei nesse livro em um balcão de trocas em que, já antes de ler o seu relato, considerei-o como a pérola do dia. Há uns anos atrás, li do Francesco Alberone o "Genesis", que trata do amor como revolução social. Penso que ambos os livros se equilibram em seus opostos: um tratando do início e o outro do fim (ou não) do amor. Ambos carregam essa visão sociológica do amor que me agradou bastante, o Alberone de modo mais presente a parte sociológica. Ficaram os dois livros juntos na minha estante em perfeito equilíbrio rs Sugiro pois quem sabe te agrade. Parabéns pelo artigo, muito bacana. Abços Luciana

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